Sexta-feira, 29 de março de 2024
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Artigos Sônia Mazetto

Viviane, você está só

Em que versão suas amigas acreditam, Viviane?

Foto: Reprodução

Viviane Kawamoto, você está só. Ninguém vai levantar a voz para te defender. Nenhuma amiga de infância, nenhuma colega de academia, nenhuma conhecida do salão ou da clínica de estética vai à público, dar uma declaração na imprensa ou fazer um post em rede social dizendo que conhece seu caráter, que sabe que você é uma mulher trabalhadora, uma mãe dedicada, uma profissional competente. Acostume-se. Essa solidão não é privilégio das cerca de 500 mulheres que são agredidas a cada hora no Brasil. Esse silêncio que você ouve agora também foi ouvido por cada uma delas. Elas também estão sozinhas, assim como você.

O Agosto Lilás, mês que celebra a conscientização sobre a violência contra a mulher, começou em meio à repercussão de toda a imprensa de MT e do Brasil, a respeito da suposta agressão que sofreu. Alguém lembrou de você, Viviane?

A primeira-dama do Estado, sua “colega” de Palácio Paiaguás, fez uma publicação um tanto quanto tímida de uma foto em que segura nas mãos um cartaz escrito “você não está sozinha”, seguido de um texto longo, sobre delegacias da mulher, SOS Mulher, botões de pânico, e termina conclamando as pessoas a, no caso de presenciarem casos de agressão, não se calarem. “Não se cale”. “Não seja cúmplice”. “Você não está só.” Ações de fachada, medidas protetivas de fachada, palavras ditas ao vento. Você se sentiu representada, Viviane? Nos comentários do post, nenhuma menção ao seu caso. Ninguém perguntou se a frase “você não está só” se estenderia também a você, que naquele momento com certeza estaria precisando de alguém para segurar sua mão.

Ao contrário de você, seu marido, o vice-governador Otaviano Pivetta, foi defendido. Publicamente. Pelo governador, por colegas da política. Por amigos próximos. Com veemência, com força, com orgulho. Todos encheram o peito para dizer que o conhecem, que ele não seria capaz de te agredir, que vocês apenas “se desentenderam”.

Eu senti, Viviane, mesmo de longe pude sentir (com o inevitável nó na garganta que vem acompanhado da minha total impotência diante dessa e de todas as situações semelhantes) o seu constrangimento ao gravar aquele vídeo e tentar sustentar a narrativa de que você e seu marido “se desentenderam”.

Também acompanhei seu post alegando ter sido induzida a fazer o vídeo. Mas sem dúvida, é perceptível que a história do vídeo foi a melhor versão a ser adotada pelos amigos de seu marido.

Em que versão suas amigas acreditam, Viviane? Ah, me lembrei, você não tem amigas. Você está só.

Sônia Mazetto

Sônia Mazetto
É fonoaudióloga, gestora de potencial humano, psicanalista, coordenadora regional da BPW Brasil e presidente do Sindicato dos Terapeutas de Mato Grosso.
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